Vamos desmitificar mitos. Até 1500 a extensão territorial que hoje seria o equivalente á extensão territorial do "Brasil" era ocupada por diversas tribos indígenas, com diversos deuses, culturas, até mesmo línguas diferentes e não uma só e um único "estado brasileiro indígena". Toda a extensão era dividida em diversas tribos e diversas identidades. Aproximadamente 275 línguas indígenas eram faladas por dezenas de centenas de nativos que ocupavam a extensão territorial que nós chamamos hoje de "Brasil"
Em 1500 uma frota expedicionária portuguesa chega "acidentalmente" á costa do nordeste Brasileiro, mais precisamente na cidade que hoje conhecemos como Porto Seguro. O processo de colonização só se inicia 30 anos depois, com Martim de Souza em 1530.
Em 1534 se estabeleceram as capitanias hereditárias, que eram 15 "estados" com um governo e uma administração totalmente independentes uns dos outros e que respondiam unica e diretamente para a Coroa Portuguesa. Esta forma administrativa falhou, restando apenas duas capitanias: Pernambuco e São Vicente. Devido ao fracasso socio-econômico destas, a coroa portuguesa resolveu centralizar o governo do Brasil e deu á Tomé de Souza o título de "Governador Geral" em 1548.
Em 1572 houve a primeira divisão regional: Região norte e Sul. Que hoje seriam respectivamente parte do nordeste (Bahia) e parte do Sudeste (Rio de Janeiro).
Até 1650 a maior parte da América Latina estava sob domínio espanhol, Portugal só dominava os territórios que vão do litoral nordestino ao litoral sudestino e parte pequeníssima do que hoje conheceríamos como o norte do Pará. Além dos portugueses e espanhóis também haviam pequenas expedições holandesas em algumas partes. Então antes mesmo do Império Português conquistar toda a extensão territorial que hoje forma o "Brasil" já haviam diversas identidades no mesmo local. A protestante holandesa, a católica ibérica e as centenas de diferentes tribos indígenas situados mais no centro cercados por portugueses (litoral oriental) e pelos espanhóis (região ocidental).
Do começo do século XVIII até o fim do mesmo, o Império Português expandiu a sua colônia (que nós chamamos de Brasil) passando por cima do Tratado das Tordesilhas, o período de expansão começou por volta de 1709 e durou até 1789 (Inconfidência Mineira). O Grão Ducado do Pará por exemplo, não respondia mais ao governador geral do Brasil, mas á Coroa, assim como diversas partes do território, ressaltando ainda mais o regionalismo acima do conceito de "nação".
No século XIX a família real portuguesa vem para sua colônia (Brasil) fugindo da invasão napoleônica. ). Mas ainda com a separação política, não havia acontecido uma separação cultural, a identidade do Império Brasileiro era a mesma identidade do Império Colonial: A identidade Regional.
O Conceito do Brasil enquanto nação, só vai se consolidar por influência do positivismo e do nacionalismo republicano. Até então a "história do brasil" era estudada com a HISTÓRIA DE PORTUGAL. A história do Brasil era uma parte da história das navegações portuguesas e nada além disso. Desde a proclamação da independência em 1822 e consumação real da Independência política do Brasil para com seu "pai adotivo" Portugal em 1831 (até então o Imperador Pedro I era ligado fortemente á política interna de Portugal e Brasil, em 1831 ele abdica do trono e o cede á seu filho Pedro II, aí sim há de fato uma total independência) e Proclamação da República de 1889 houve a necessidade de criar uma "história" brasileira.
Uma criação medíocre e superficial é evidente, o Brasil como nação simplesmente não existe historicamente falando, é uma criação superficial do positivismo do século XIX. E não existe nem nunca existiu uma "identidade brasileira", o que já existiu foi a "identidade lusitana" presente no território que hoje conhecemos como Brasil, mas esta identidade não foi nos dada, nos foi emprestada e apenas durou enquanto Portugal foi nosso pai adotivo.
A identidade "brasileira" é a identidade regional, não existe identidade nacional brasileira, linguá brasileira, raça brasileira, cultura brasileira, musica brasileira. Existe identidade regional paulista, regional gaucha, regional sertaneja e assim por diante. Qualquer tentativa de nivelar ou equalizar estas diferentes identidades em nome de um nacionalismo fajuto e sem fundamentos históricos é um atentado contra o ethnos "brasileiro".
O Gaúcho vive e pensa como Gaúcho, o Paulista vive e pensa como Paulista, o Nordestino vive e pensa como Nordestino. Não existem brasileiros, existem sudestinos, nordestinos e assim por diante. É mais do que necessária a independência sócio-política e econômica dos grupos identitários brasileiros. Uma rebelião dos regionalismos contra o falso nacionalismo. Um movimento identitário anti-patriota e anti-nacional deve surgir, uma revolução social, identitária contra o conceito burguês positivista de nação deve surgir.
Publicado originalmente em 18/02/2014