sábado, 2 de outubro de 2021

Sobre a inexistência da identidade brasileira

FELIPE NOGUEIRA DE SOUSA
24/06/2014

Sobre as minhas ideias separatistas e porque eu sou tão contra essa ideia de nacionalismo brasileiro. Imagino que tem gente que não entende muito bem essas ideias, então vou tentar explicar de forma rápida e reta.

Na minha opinião, qualquer movimento que busque construir um nacionalismo ou valorizar uma identidade nacional em escala de Brasil está fadado a falhar, porque a identidade brasileira é uma coisa artificial e frágil e isso é facilmente de ser percebido nesse atual momento de copa. É como se o brasileiro fosse só um torcedor ou alguém que gosta de pular carnaval, nada mais. Os símbolos e heróis brasileiros são construídos em cima de mentiras e mitos, um grande exemplo disso é o hino nacional e o hino da independência que tentam dar uma imagem de luta do povo brasileiro pela independência, mas na realidade essa luta nunca aconteceu, porque não havia um povo brasileiro. A independência foi alcançada através de acordos e alguns pagamentos entre a família real e outras figuras importantes na aristocracia.

Se formos olhar a história do Brasil colônia até o momento, não vemos nenhum grande movimento, com caráter realmente político, em escala de Brasil, muito pelo contrário, vemos vários movimentos regionalistas, muitos que buscavam a independência de suas regiões, e não do Brasil como um todo. Esta lista na wikipedia tem alguns exemplos, como a aclamação de Amador Bueno em São Paulo, a Revolução Farroupilha no Sul, a Inconfidência Mineira (que hoje é visto como se fosse um movimento por independência brasileira) entre outros: pt.wikipedia.org/wiki/Movimentos_separatistas_no_Brasil.

A identidade brasileira que temos hoje foi artificialmente construída ao longo do tempo. Quando o Brasil consquistou (melhor dizer que pagou) a sua independência, havia uma grande preocupação do governo imperial de criar uma identidade e um povo brasileiro, porque na verdade não havia. Quem estudou o romantismo brasileiro no ensino médio deve ter visto todo o movimento literário que buscava criar uma identidade brasileira e valorizar a nação, o nome principal desse movimento foi o escritor Gonçalves Dias. E esse movimento coincide com o Brasil império, e não é só coincidência, havia financiamento por parte do governo imperial às elites intelectuais para que tudo isso acontecesse.

Mas devido à precariedade da educação na época, esse movimento ficou restrito apenas às elites, já que a população da época ainda era na grande maioria analfabeta e não frequentava escolas. Além disso, devido à centralização imperial, as escolas eram bem limitadas a alguns núcleos, como o Rio de Janeiro, que era a residência da família real. Também é importante notar que devido à residência da família Real no RJ, boa parte da identidade brasileira de hoje tem um caráter fortemente carioca.

Durante a era imperial é bem notável movimentos separatistas no Brasil, como a Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul. E recentemente li um livro chamado "A Pátria Paulista", de um político republicano da época que defendia a independência de São Paulo.

Após isso veio a República, e continuou a preocupação com a questão da identidade nacional, mas ainda assim a propagação de tal identidade não era tão eficiente. Outro exemplo de insurreição, que apesar de não ser separatista, mas que tinha um caráter fortemente regionalista (mas ainda tinha figuras famosas que defendiam o separatismo, como Monteiro Lobato), foi a Revolução Constitucionalista em São Paulo.

A identidade brasileira só começou a ser efetivamente espalhada e aceita com a ditadura militar, já que na época havia grande necessidade de se formar pessoas qualificadas para o mercado de trabalho e, junto com isso, doutrinar as pessoas dentro da ideologia militar da época, com a valorização dos símbolos pátrios. Isso é bem evidente na antiga disciplina de moral e cívica.

Bem importante notar também que foi nessa época que surgiu a Rede Globo, o grande mecanismo ideológico do governo e, além disso, o mito do país do futebol, com as vitórias da seleção brasileira em Copas do mundo. E assim se criou toda essa cultura escapista do brasileiro de futebol e carnaval, já que por causa das novas condições da época, ficou bem mais fácil espalhar a ideia da "brasilidade".

Hoje em dia já não é mais necessário fazer toda essa doutrinação brasileira, porque depois de todas as gerações educadas dentro da ideia da brasilidade, as pessoas acabaram largando os regionalismos em nome do país da diversidade. Tanto é que hoje o lema do BR é essa frase ridícula: "Brasil: Um país de todos".

Todo mundo tira alguma vantagem do Brasil, todo mundo mama um pouco, e no final o país não é de ninguém. O "jeitinho brasileiro" impera.

Se não me engano, foi o ex-presidente Fernando Henrique que disse uma vez que o Brasil não investe mais na questão de identidade nacional porque isso não é mais necessário.

O que tinha de ser feito foi feito. Por causa de tudo isso eu não acredito na ideia de identidade brasileira, pra mim isso é apenas uma ideia frágil e artificial.

Como eu já disse antes: Não sou brasileiro, sou Paulista.

O autor foi Secretário-Geral do MSPI.

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