segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Separatismo: um novo idealismo




Quando se é jovem, muitas vezes também se é visionário, sonhador, idealista, se se apaixona por alguém, por um companheiro de causa, por uma ideologia e se se agarra nela, mesmo que seja pra pegar numa arma e assaltar a um banco na pele de um guerrilheiro (pra algumas décadas depois até virar presidente da república). Humm... essa história me parece conhecida.

Nessa fase da vida se pensa que se pode transformar o mundo num lugar mais justo e, portanto, feliz. Mas no frigir dos ovos, nem sempre o politicamente correto pode ser considerado, porque, se for, não há briga, não há combate, não há ação, porque, muitas vezes, o politicamente correto ata, amarra, emperra e sufoca quando é preciso avançar. O politicamente correto impede a desejada ruptura, azeita a necessária fricção, inibe a luta... essa luta para mudar, para melhorar, para corrigir o que está errado.

Pois se eu não cheguei a ser um guerrilheiro, idealista eu fui e também politicamente correto, e o digo sem vergonha alguma. Aliás, continuo a sê-lo, se bem que já curtido, bem formado e com as arestas devidamente aparadas, ou seja, sou um idealista mais realista, e espero que também mais sensato. Só que percebi que ser politicamente correto sempre, não é apenas chato, mas também pode ser um atraso de vida, por isso vou dizer o que tenho de dizer sem medo de pisar em calos e ofender suscetibilidades.

Querem um exemplo do prejuízo que a postura politicamente correta causa? Pois vejam só o problemão social que esse conceito, nascido no Reino Unido e adotado por quase todo o mundo ocidental, criou para muitos países, principalmente os Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e França, invadidos por muçulmanos que querem se impor, custe o que custar, sobre a civilização local. Afinal, no mundo ocidental não se corta cabeça nem se apedreja suspeito de crime em praça pública, não se encarcera ninguém suspeito de espionagem e nem se usa Deus como desculpa para matar. No mundo ocidental, por conta dessa merda de politicamente correto, o máximo que se faz é TOLERAR, e tolerar é esperar - pelo inevitável, pela extinção do mundo como sempre o conhecemos.

O que quero dizer é que foi-se o tempo de eu acreditar num Brasil melhor. Perdi a inocência! Foi um processo doloroso, sem dúvida, mas finalmente cheguei no ponto da descrença total, da insatisfação crônica, da frustração onipresente e da incredulidade, ou seja, não acredito mais em Brasil, não acredito nesse arremedo de União e imitação de democracia nem creio nesses governos de déspotas.
O Brasil sempre foi como uma grande casa nunca acabada, que mal tem se mantido em pé às custas de muita gambiarra e abrigando famílias tão diferentes entre si a ponto de se perceberem como estrangeiros, e por isso, um dia, vai desmoronar.

Afinal, o que um gaúcho tem a ver com um potiguar? O que um piauiense tem a ver com um paulista? O que um catarinense tem a ver com um cearense? OK, eles ainda tem coisas em comum, todos falam português, ainda que com sotaques diferentes, todos comem feijão com arroz, amam futebol, adoram um brigadeiro, são fanáticos por novelas da Globo, gostam de piadas de viado e sacanagem, adoram um motelzinho num fim de semana, glorificam os feriados (excessivos), curtem um carnaval e são chegados numa bunda.

Entretanto, as afinidades param por aí, porque há muito, mas muito mais diferenças culturais entre certas populações do que afinidades, e a maior parte delas naquilo que interessa, que é importante na formação da cultura que a distingue da outra. E, em determinados casos, essas diferenças são tão marcantes que não dá mesmo pra conviver com elas, não há conciliação, é preciso apelar para a saída mais óbvia, ou seja, o divórcio, a separação.

Por exemplo, o gaúcho tem a sua cultura formada, sobretudo, pela sua geografia peculiar em termos de Brasil, pois junto com Santa Catarina não tem a tropicalidade como tônica, possui os campos dos Pampas que lhes confere uma alimentação historicamente europeia, ou seja, baseada no consumo de carne, leite e derivados de trigo, até porque a cultura do estado é predominantemente europeia por causa da imigração maciça e pouca migração de outras partes do país já mais familiarizados com a farinha de mandioca. Eles são um povo bastante consciente de si próprio, de sua cultura e identidade, de seu valor cultural, porque são gente de fronteira, que a conquistou e sempre brigou por ela a fim de manter os vizinhos hispânicos fora de seu território, daí serem vistos como "brigões", tradicionalistas e orgulhosos. E quem há de culpá-los por isso, hein?

O vizinho, Santa Catarina, também tem suas peculiaridades, ainda que tenha muito em comum com o Rio Grande do Sul. Por exemplo, eles também sofreram uma influência decisiva da imigração europeia em sua cultura que bem os define como povo. Eles também tem fronteira com país hispânico pra cuidar, como também tem o clima predominantemente subtropical que lhes confere um modo de vida diferente de grande parte do país. Também, como o Rio Grande do Sul, eles têm uma população homogênea porque pouco sofreram com a migração em massa de desesperados, ao contrário do que ocorreu e ainda ocorre com São Paulo. Lembrando que esse é um dos argumentos mais usados pelos sulistas para nos rejeitarem numa possível união com eles - porque já traríamos graves problemas sociais para a nova federação. De novo, quem há de culpá-los por pensarem assim? Voltando ao assunto anterior, talvez por causa da influência alemã e eslávica, as cidades catarinenses sejam tão mais organizadas e limpas que no restante do país.

O Paraná, logo ao norte, igualmente tem a população homogênea de origem europeia, também faz fronteira com país hispânico, pouco sofreu com o fluxo migratório de outras partes pobres do país e tem sua idiossincrasia cultural e social muito próxima a de seus vizinhos do sul, ainda que o norte do estado sofra uma influência paulista marcante e que, como São Paulo, tornou-se rico com a exploração da cultura do café. Lembremos que essa região do Paraná foi colonizada por paulistas, assim como mineiros e fluminenses.

Portanto, pessoal, não é mesmo à toa que queiram ser um país à parte, porque, de fato, têm muito em comum e são diferentes do resto, se bem que nem sempre foi assim com respeito a São Paulo, porque, no passado, há pelo menos uns 50 anos atrás, nós tínhamos muito em comum com eles. Nós também tínhamos uma população homogênea e de origem europeia, sobretudo italiana, portuguesa, espanhola, como também árabe e japonesa, sem falar nos alemães, judeus, lituanos e outros.

A título de curiosidade, nos anos 20, a maior parte da população paulistana sequer falava português como primeira língua.

Nós, como os gaúchos, também sempre tivemos esse espírito de povo da fronteira, porque nós, com os nossos bandeirantes, expandimos imensamente os domínios lusófonos na América do Sul anexando terras e mais terras à coroa portuguesa. Por nossa causa o Brasil é do tamanho que é, e muito do território brasileiro era paulista. E desses nossos valorosos antepassados herdamos esse espírito pioneiro e laborioso que nos coloca na vanguarda em muitos aspectos dentro do Brasil.

Quando os imigrantes europeus chegavam à capital de São Paulo, diferente do resto do país, já nós encontravam civilizados, pois que já contávamos com uma elite agroindustrial forte e educada nas melhores universidades europeias. Diferente dos cariocas que viviam de status de capital, nós nos fizemos, nós criamos a nossa própria civilização com os nossos braços, não tínhamos aqui as benesses da capital imperial e depois republicana.

Os paulistas de então eram orgulhosos e mesmo xenófobos, tanto que até discriminavam aos estrangeiros, olhavam os imigrantes, especialmente os italianos que provinham, em sua grande maioria do norte da Itália, como inferiores. Para certas famílias de classe média, chegava a ser uma desgosto ver um filho casar-se com um imigrante, especialmente italiano. Esse fenômeno social, até onde sei, é desconhecido em outras partes do país.

Mas o tempo passou e a população local acabou absorvendo ou sendo absorvida pelos estrangeiros e aí formou-se uma nova identidade paulista, essa que todos nós amamos, até porque somos parte dela. Afinal, muitos de nós somos descendentes daqueles imigrantes, como eu, por exemplo, que até cidadania estrangeira tenho. Enfim, temos o nosso sangue colonial e imigrante misturados.
Não demorou muito, porém, pra que uma nova transformação ocorresse, mas dessa vez, infelizmente, não seria a nosso favor porque a harmonia nunca haveria de vingar como havia acontecido antes com os imigrantes.

Alguns críticos do chamado bairrismo paulista ou preconceito contra nordestinos e outros, costumam argumentar que a pujança econômica do estado de São Paulo foi conseguida às custas de muito sangue e suor dos migrantes pobres do Nordeste e do Norte do país. Pode ser que sim, pelo menos em parte, mas isso não ocorreu sem que, no princípio de tudo, muitos paulistas se vissem desempregados e, portanto, sem poder sustentar suas famílias por causa da competição desleal dos forasteiros que trabalhavam a "troco de banana", como se costuma dizer. Eles não apenas baixaram os salários a um nível que já não permitia que os locais pudessem viver com dignidade, mas também trouxeram a noção da improvisação, da gambiarra, do morar de graça e do "jeitinho" por causa da total falta de educação, formação e profissionalismo que, infelizmente, pelo que parece, já está enraizada em nossa cultura, talvez para sempre.

Quando começaram a chegar, houve muita revolta, as pichações de "fora nordestinos" começaram a pipocar pela capital paulista por causa desse choque cultural causado pela migração que já tinha se tornado um fluxo ininterrupto e que prossegue até os dias de hoje.

Mas o tempo passou e essa população toda de migrantes pobres começou, finalmente, a ser mais ou menos absorvida pela realidade econômica e social do estado mais rico e poderoso da nação, mas não sem o onipresente choque de culturas, a revolta silenciosa dos paulistas, sua resignação pela falta de voz, pela boca impedida de gritar por basta, enquanto, através dos anos, viram a escalada da violência, antes praticamente desconhecida, as práticas sociais ou, antes, antissociais completamente alienígenas aos locais, como por exemplo, a invasão da propriedade pública e privada, a falta de respeito pelas regras e o descaso pela lei e pela ordem, a violência doméstica acompanhada sempre do machismo típico, enfim, "tudo misturado", mas nem tanto assim.

Ainda há muitos paulistas que não se conformam com este estado de coisas, e muitos deles estão aqui entre nós e eu mesmo sou um deles. Houve um tempo em que os vizinhos espiavam através de suas janelas e comentavam sobre aquela "gente esquisita" que estava despejando a mudança de um caminhão velho e poeirento logo ali ao lado. Daí se ouvia falar da primeira morte a facadas na padaria da esquina provocada por alguém de aparência e sotaque peculiar, do maltrato do motorista de sotaque e aspecto marcante que insulta o idoso porque este se demora a subir no ônibus, as pessoas com "cara de forasteiro" depredando jardins públicos porque se acham no direito de levar a florzinha bonita de graça pra casa, as comidas de rua vendidas sem o menor cuidado com a higiene por "aqueles tipos que sabemos de onde vem", homens (que não parecem ser daqui) urinando na via pública como se fosse a coisa mais aceitável e normal do mundo... Enfim, tantas coisas que, desde pequenos, observamos e aprendemos a distinguir "o tipo" que faz daquele que não faz o que sabemos ser errado, e geralmente, aquele que "faz cagada", não se parece muito "com a gente".

E depois vem nego reclamando de nossa ojeriza a nordestino, de nosso preconceito, bairrismo e racismo. Por acaso, estereotipar, é um mal só paulista? Por acaso, quando observamos um paradigma comportamental confirmar-se sempre, repito, sempre, não é compreensível que assim seja? Porque, sim, a gente vê - sempre! E, infelizmente, uma maioria (?) que presta, civilizada, acaba pagando pela minoria (?) f.d.p., é a história do mundo, não é uma invenção paulista.
Acho que todos sabem muito bem o que quero dizer aqui.

E assim seguimos, vendo os nossos valores e cultura sendo espezinhados por uma gente que não dá a mínima e só tem mesmo noção do "aqui e agora", que vive aos trancos e barrancos, movidos mais pelo instinto do que pela razão, que isso signifique te enfiarem uma faca na barriga por não concordarem contigo ou por ciúmes da mulher. Não trazem nada ou trazem muito pouco. Tiram, tomam porque daqui, ainda, tem o que ser tirado e tomado, ao contrário da terra de origem deles, da qual são párias e órfãos.
Um amigo meu, gaúcho, por sinal, e morador da capital paulista há muitos anos, argumentou que, diferente do que acontece no Rio Grande do Sul, a nossa causa pela independência está perdida, natimorta, por causa dessa grande minoria de "outros" que sufoca nossa voz nas urnas, nos protestos, na frustração, na insatisfação... Enfim, a população desinteressada em nossa independência é tão grande porque muitos nem mesmo são paulistas ou porque se veem como "os outros". E isso nos faz muito distantes de nosso sonho paulista de independência, tão diferente do que se passa com o Sul que, felizmente, não chegou a sofrer do mesmo mal que nós sofremos.

Dói dizê-lo, dói muito, mas creio que meu amigo gaúcho tem razão. O Sul, sim, tem chances de conseguir independer-se dessa desgraça chamada Brasil, já nós, temos o câncer do Brasil já em estado avançado em nossas entranhas paulistas e estamos a morrer, a nossa cultura e identidade está a morrer.

Mas, como bom paulista que sou digo: a esperança é a última que morre! Tenho fé que, de um jeito ou de outro, essa situação, um dia, há de mudar, e que finalmente possamos ter a liberdade de ser apenas o que e quem somos, ou seja, paulistas, paulistas de coração, gente que acredita em trabalho, honestidade, regras, ordem, lei, planejamento, educação e civilidade, gente que quer um ambiente melhor para nossos filhos e netos.

AUTOR: ZIG ZAG


22/09/2014

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