sábado, 25 de dezembro de 2021

Eram os Bandeirantes assassinos de índios?

11/05/2016

CARLOS ALBERTO RODRIGUES JÚNIOR

Não é difícil encontrarmos quem prega a ideia de que os Bandeirantes, heroicos ancestrais do povo paulista, foram pessoas sanguinárias que dedicaram suas vidas ao extermínio de povos indígenas. Atualmente, com a ascensão da esquerda ao poder, uma forte doutrinação ideológica tem intensificado esta falsa imagem de nossos antepassados, causando inclusive ataques e vandalismo a monumentos dedicados à memória dos primeiros paulistas.

Mas os Bandeirantes realmente foram assassinos sanguinários? A história de São Paulo e da América portuguesa merece ser revisada?

Primeiramente, devemos compreender o conceito de sociedade na época. A civilização ocidental acabava de sair da Idade Média, e havia uma grande necessidade por recursos e riquezas. Esta necessidade sempre fez parte daquilo que move o ser humano, seja lá qual for sua origem ou condição. E após séculos de estagnação econômica e social, o descobrimento de novas terras do outro lado do oceano fizeram com que milhares de europeus migrassem em busca de riquezas. No entanto, as novas terras já eram habitadas por povos de hábitos primitivos. Por conta disso, foi uma mera questão de tempo que o contato entre duas culturas diferentes gerasse atritos.

Devemos lembrar que as definições de moral e ética na época eram bastante diferentes dos nossos atuais conceitos. Se hoje coisas como conquista por meio da força, domínio cultural e escravidão nos parecem ideias abomináveis, no período colonial estes conceitos eram vistos de forma muito distinta, até com certa naturalidade. A história da humanidade se moldou em guerras, impérios dominando nações, violência extrema e escravidão. De certa forma, ainda hoje o curso da história é forjado desta forma.

Por serem tecnologicamente mais evoluídos, não demorou para que os europeus subjugassem os povos nativos. Do ponto de vista ético e moral, toda a violência empregada na conquista da América pelos europeus jamais poderá ser justificada. Mas eram as regras da época. Foram necessários alguns séculos para que os conceitos éticos e morais se moldassem naquilo que entendemos como “ideal e justo”.

E se por um lado as ações violentas e invasivas praticadas pelos europeus jamais poderão ser justificadas, a moral e a ética praticada pelos povos primitivos não eram muito diferentes. É totalmente falsa a ideia do índio pacifista, que vivia em harmonia plena com seus semelhantes e com a natureza. Na verdade, enxergar os povos como este ser caricato e limitado é negar sua própria humanidade.

Os nativos americanos até podiam estar alguns degraus abaixo dos europeus ao que se refere à tecnologia, mas eram tão humanos quanto. E isso implica que estes povos possuíam as mesmas virtudes e os mesmos vícios que os habitantes do velho mundo. Muito antes da chegada do primeiro europeu em terras americanas, os habitantes nativos já viviam em sociedades com relativo grau de complexidade, com culturas e territórios bem definidos, onde tribos se tornavam rivais de outras, e frequentemente travavam guerras violentas. A figura do “guerreiro” sempre gozou de grande status na sociedade indígena. Enxergar o nativo americano como um ser incapaz, desqualificado e indefeso é a forma mais cruel de preconceito a estes povos.

O povo paulista, culturalmente e etnicamente, é o resultado da fusão dos elementos europeus, indígenas e africanos. Esta fusão é evidente até hoje em nosso dialeto, em nossa culinária e até mesmo em nossa genética. Pode-se afirmar que muito mais que domínio, houve na verdade uma integração cultural. Esta é base do povo paulista. Até mesmo os imigrantes europeus que aqui foram chegando a partir das últimas décadas do século XIX absorveram muitos elementos desta mistura cultural.
Jamais poderemos negar a extrema violência ocorrida no período colonial. No entanto, muito mais que conquistas de terras e riquezas, este período forjou a essência daquilo que somos: Paulistas.

*O autor é colaborador do MSPI

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