segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Entrevista concedida ao blog "São Paulo não quer ser cinza"




Reproduzo abaixo o texto original da entrevista que concedi ao blog "São Paulo não quer ser cinza", da jornalista Gabriela Benone. A reportagem, que teve como base minha entrevista, pode ser lida aqui.

EDIÇÃO ORIGINAL

"Porque? Como? Quando? E através de quem surgiu?"

Existe no direito natural uma norma internacionalmente reconhecida e consagrada desde a Antiguidade, que é o direito de Autodeterminação dos povos. Reza esse princípio que todo o povo possui o direito de decidir soberanamente sobre o seu destino, sobre o seu futuro. O Estado de São Paulo, embora não seja um país, possui um povo claramente ímpar, com cultura e identidade própria, distinta das demais identidades dos demais estados do Brasil. Culturalmente São Paulo é uma nação.

Essa ideia de transformar São Paulo em um país não é nada recente. A primeira vez na história do continente americano que se ouvia falar de libertação de um povo foi em 1641 na Vila de São Paulo, onde os Paulistas aclamaram Amador Bueno como seu rei, e se declamaram independentes de Portugal. A bem da verdade histórica, a intenção dos Paulistas mais do que livrar-se de Portugal era poder continuar atrelado à Espanha, o que acontecia desde 1580, por causa da União Ibérica. Mais uma vez fica registrada a diferença da população de São Paulo, que se mostrou pioneira na defesa dos seus interesses contra a exploração da Coroa Portuguesa.

No século XIX, o movimento separatista reunia pessoas influentes em toda a Província, tal como o ideólogo republicano Alberto Sales, irmão do ex-presidente Campos Sales. A sua defesa da secessão se encontra no livro "A Pátria Paulista", lançado em 1887 e reeditado nos anos 1980 pela editora da UNB.

No século XX, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, a ideia separatista foi amplamente divulgada e cogitada entre os Paulistas. Não era esse o motivo pelo qual São Paulo lutava. Entramos em guerra contra o Brasil por que Getúlio Vargas acabou com a autonomia dos Estados, que era prevista na Constituição brasileira de 1891. São Paulo queria uma nova Constituição, por que somente com a legalidade democrática poderíamos reconquistar nossa autonomia.

Já no fim do século passado, a ideia separatista ganhou novo fôlego, através da divulgação das ideias de três figuras importantes: o jurista João Nascimento Franco (Fundamentos do Separatismo), Braz Juliano (Comunidade das Repúblicas Independentes do Brasil) e o professor Paulino Rolim de Moura. Ambos sofreram perseguições de várias espécies por parte do governo brasileiro. Nós hoje damos continuidade a essa trabalho que renasceu na década de 1990.

Defendemos as mudanças legais necessárias para que São Paulo possa decidir, através de um plebiscito, se deseja permanecer fazendo parte do Brasil ou separar-se e constituir-se em novo país. Hoje, a Constituição brasileira veta essa possibilidade, todavia, nossa luta é para mudar essa realidade.

"As pessoas de fora, veem a intenção separatista como algo um pouco utópico. Tanto a de São Paulo como a de outros estados (ex: MRR e O Sul é o meu país). Como vocês, idealizadores, enxergam esse ponto de vista e como planejam tornar o movimento uma realidade?"

Nós não planejamos tornar o movimento uma realidade simplesmente por que ele já é uma realidade! A ideia separatista é concreta e em São Paulo reúne milhares de adeptos. O que precisamos ganhar é força, vulto, tamanho. De fato nossa luta não é uma luta simples, mas possuímos a plena convicção de estamos do lado correto da história, defendendo os princípios e os valores adequados para nosso povo.

"Notei que um dos maiores pontos levantados é Carga Tributária. Fora esse, quais são os outros principais motivos? Quais são dados mais atenção quando o movimento é exposto?"

A questão da arrecadação tributária é a mais chocante para grande parte da população. Além disso o problema da representação de São Paulo na Câmara Federal também é digno de espanto, afinal o voto de um Paulista para deputado federal vale muito menos do que o de um cidadão de qualquer outro estado. No entanto, existem motivos culturais que distinguem São Paulo do Brasil, e que portanto nos transformam em uma nação.

"Acredita que a mídia, manipuladora como é, irá esconder a busca de vocês se o movimento se intensificar ainda mais?"

Sem dúvidas, além de esconder as ideias separatistas, quando a mídia mostra a luta histórica dos Paulistas sempre faz questão de distorcer nossas ideias, aliás, mais do que distorcer, simplesmente ela cria mentiras, sempre buscando associar os separatistas, seja de São Paulo ou dos Estados do Sul com ideias nazistas ou racistas, apenas com o fim de desmoralizar os movimentos separatistas.

"Qual a quantidade de público, o movimento como um todo, de fato, atinge? Como planejam uma maior divulgação? A rede social tem sido uma ferramenta útil?"

Atingimos mais de 30 mil pessoas por semana através das redes sociais, em especial, pelo Facebook. As novas ferramentas de comunicação são armas poderosas nas mãos dos Paulistas, por que através delas nos conseguimos alcançar nossa população e levar a ela verdades que não são contadas pelos atuais políticas e nem pela mídia tradicional.

"Como lidar com as acusações de xenofobia e racismo que envolve as pessoas que são contra? E também com as pessoas que fazem parte do movimento e que apresentam esses comportamentos julgados cometidos por vocês?"

Nós demos início a um projeto que recebeu o nome de "Dossiê do preconceito". Nesse dossiê a ser divulgado em nosso site (saopauloindependente.org) nós iremos coletar as inúmeras demonstrações de ódio e intolerância dos brasileiros contra os Paulistas. Pretendemos com isso esclarecer a população Paulista de que nós é que somos vítimas diárias de desrespeito e preconceito.

"A ideia de autossuficiência em relação aos outros estados do Brasil é dita como não existente, mas em determinados aspectos elas são talvez involuntariamente expostas, o que você tem a dizer sobre isso? Para explicar melhor, conheço uma pessoa que é super a favor do movimento e demonstra graaaande irritabilidade com o sotaque de uma pessoa de outro estado e ainda diz "O nosso é bem melhor", não se pode generalizar, eu sei... Mas isso é uma demonstração de superioridade, assim como, existem em alguns casos de comentários na página de vocês."

Autossuficiência econômica não existe. O mercado é grande invenção da civilização humana. Não precisamos ser autossuficientes em nada, em se tratando de matéria econômica. Do ponto de vista populacional, SP há décadas vem sofrendo com uma migração completamente desordenada, que não respeita as dinâmicas culturais da população Paulista e isto gera uma compreensível irritabilidade no discurso de alguns poucos Paulistas mais exaltados.

"Existe nas entre linhas ou de forma visível, o apoio a algum partido político? Porque há um enoooorme descontentamento com PT e uma notável presença de direita..."

Apoio de partido à ideia não. Sabemos que políticos de grande nome em São Paulo que são defensores ardorosos do separatismo, embora não falem abertamente, com medo de perderem votos de alguns setores menos esclarecidos do eleitorado, e certamente a ascensão do petismo no Brasil ajuda a engrossar a fileiras dos descontentes, daqueles que buscam uma mudança real para a terra onde vivem. Só a secessão trará mudanças significativas para São Paulo.

"A autonomia legislativa, não seria uma solução?"

A única solução possível e aceitável seria o Brasil se reconhecer como um país plurinacional, e São Paulo tornar-se soberano, dentro de uma confederação brasileira. Ou isso, ou a secessão.

"Além do governo, o que impediria que São Paulo se tornasse independente."

A falta de consciência do nosso povo é o maior impeditivo atual para que São Paulo se torne independente. Nossa luta é para transformar esse quadro.

Espera-se muito dos jovens para gerar melhores decisões no Brasil. Não compensaria aliar-se para gerar melhores condições no país como um todo? Para talvez diminuir esse peso que São Paulo carrega?
O problema é que nós já estamos há quase um século carregando o Brasil nas costas, praticamente sozinho, e se o problema para resolver isso, dentro da união, fosse o tempo, já teriam sido resolvidas essas desigualdades. Para SP não compensa mais esperar qualquer espécie de boa vontade e desejo de fraternidade vindos do Brasil. Isso simplesmente não acontecerá.

"Em qual publico esse ideal se destaca com mais força? O que as pessoas mais velhas costumam pensar dessa decisão? E classe social, de maioria rica ou pobre?"

No quesito etário é muito variado. Os jovens acabam recebendo mais as nossas campanhas, por que elas são fortemente veiculadas nas redes sociais, onde muitas pessoas mais velhas acabam não estando presente, todavia, entre os de meia idade e os idosos a ideia é fortemente acolhida também. Economicamente é possível dizer que aqueles que se dedicam mais entusiasticamente não advém das classes abastadas. Somos trabalhadores, profissionais liberais, micro empresários. Nenhum multimilionário.

"Tornar São Paulo um país solucionaria de que forma os problemas que a cidade enfrenta? Violência, por exemplo."

São Paulo hoje, o Estado, já tem níveis de segurança muito bons, mas que mesmo assim ainda estão longe de ser aceitáveis. Todavia, com a separação certamente nosso nível de vida subirá muito, e rapidamente. Apenas um adendo, para esclarecer: quando falamos em secessão, nos referimos ao Estado inteiro e não só sobre a capital paulista.

"Como o Brasil suportaria as dificuldades se São Paulo tornasse independente de fato? Já foi pensado nas consequências que essa independência causaria no contexto geral? Independência para São Paulo não seria como fugir das dificuldades e dos problemas?"

Nós, Paulistas, identificamos a causa do problema, a sua raiz, e estamos acabando com o mal onde ele começa. Somos nós aqueles que buscam enfrentar o problema maior, a centralização e as diferenças culturais, de uma maneira direta, sem maiores rodeios. A separação é a solução. Não temos receio sobre as dificuldades que teremos que enfrentar como país livre, afinal, os Paulistas estão prontos para assumir essa responsabilidade. Não há o que temer, seja economicamente, e menos ainda politicamente. Todos ganharão: São Paulo e a União.

"Se houvesse a sensação de autossuficiência, seria assumida?"

Não compreendi o sentido de autossuficiência.

"O roubo acontece por parte do governo que utiliza o dinheiro que deveria ser bem investido de uma forma corrupta. Correto? Porque se tornar independente seria mais vantajoso que colocar no poder um governo que de fato representasse o ideal de justiça que vocês querem?"

Por que São Paulo não pode eleger os governadores dos outros estados, por que nós escolhemos os prefeitos das milhares de cidades do Brasil, ou seja, jamais haverá uma classe política em número suficiente que fosse ligada, minimamente, conosco, e, sendo assim, a sangria econômica jamais seria freada. O Brasil pode melhorar o quanto quiser, mas São Paulo não é Brasil e não quer continuar atrelado a esse país. Não existe no Brasil nada que nos faça amá-la, ao contrário, o Brasil só nos causa repúdio.

A dificuldade de o movimento se tornar real é menor do que a de encontrar um governo (sonho de todos), assim? Ou o valor cultural entre outros, visto por vocês sobrepõe totalmente a idéia de um Brasil melhor? Não veem um pouco como individualismo?

Não se trata de individualismo, afinal, defendemos um povo, com todas as suas características, e não um pequeno grupo ou uma elite poderosa. São mais 40 milhões de pessoas, moradores de São Paulo, que nós defendemos, e, portanto, está muito longe de ser um empreendimento individualista. Esse conceito nessa discussão não cabe.

"A chegada desses políticos que também defendem o separatismo no poder facilitaria a secessão?"

Esse momento chegará, quando nosso movimento tomar maior corpo, e os políticos perceberem que não somos um mísero grupelho, mas um movimento vindo da sociedade, e que está revoltado, clamando uma saída radical. Além do mais, não precisamos também dos velhos políticos que estão muito bem acomodados com a situação de São Paulo dentro do Brasil. Em nossas fileiras, entre a população Paulista, surgirão lideranças capazes de nos representar apropriadamente.

"A migração diminuiria? Por que? São Paulo é um Estado de maiores oportunidades, como por exemplo, no mercado de trabalho... A inserção de nordestinos, bolivianos, entre outros, mesmo assim diminuiria com a independência?"

Por ter uma economia pujante e desenvolvida é natural que pessoas de fora do território Paulista queiram aqui ingressar, sejam vindas de outros países, ou de regiões do Brasil. Não cremos que deve haver uma discriminação de origem, mas de qualificação. São Paulo não pode continuar a receber todas as pessoas que aqui queiram entrar, simplesmente por que não existe infraestrutura adequada para suportar isso. E, além disso, o resultado de fluxos migratórios sempre dependem muito mais das condições inferiores do local de onde se partiu do que das condições melhores de onde se pretende chegar. Com a independência, por exemplo, os estados do nordeste precisarão caminhar mais com suas próprias pernas, e as condições de vida de seus habitantes melhorará.

"O governo petista tende a ser totalitário se reeleito, prevê que no futuro eles tenham AINDA mais domínio (ou total) da mídia, além do que ela é por si só. Se ocorrer essa permanência no poder será ainda mais difícil gerar consciência no povo? Qual solução vocês preveem se isso acontecer?"

Não creio que o PT caminhará para o totalitarismo. O PT tenderá caminhar pelos mesmos caminhas que anda hoje, que são aqueles aceitos pela esquerda internacional moderna. Claro, sempre existem as brigas entre as chamadas "correntes", uma mais populista, caudilhista, outra mais burocrática e pragmática e mesmo uma mais totalitária. Não temos que esperar um clima igual a Cuba ou Coreia do Norte, mas do PT o que virá pode ser um regime híbrido, misturando preceitos e ações típicas da esquerda contemporânea com ações típicas da esquerda dos anos 60. A mídia continuará nas mãos do governo, e atenderá sempre os seus desejos, independente de quem esteja ocupando a cadeira de presidente. Somos inimigos do que o Brasil representa, seja o seu governo do PT ou não.

"Por que a mídia e algumas pessoas tendem a relacionar a secessão com ideais, além de racistas, nazistas? "

Por que a mídia serve aos interesses dos donos do poder, esses não querem a secessão de São Paulo, por que lhes é mais cômodo roubar o Brasil todo unido.

PS. Entre aspas as questões feitas pela jornalista, sem uma virgula de alteração.

15/08/2014

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