O protesto deste domingo (12) foi o primeiro em que as lideranças dos principais grupos organizadores unificaram o discurso em torno do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. No ato de 15 de março, grupos importantes como o Vem Pra Rua ainda não havia aderido à tese.
Além de Dilma, o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram alvo de críticas e xingamentos. Também houve espaço para ataques ao Congresso e ao PMDB, além de pedidos de intervenção militar. Defensores minoritários de causas polêmicas como separatismo, monarquia e integralismo (versão brasileira do fascismo) tentaram aproveitar a onda, mas foram repelidos. “Trouxemos fichas de associação, mas estamos discretos porque na outra vez fomos hostilizados pelos nacionalistas”, disse Júlio Bueno, do Movimento São Paulo Independente.
Era visível o menor número ontem em comparação ao protesto de 15 de março – considerada a maior manifestação de rua desde as Diretas Já. Os pontos de maior concentração eram ao redor do trio elétrico do Vem Pra Rua, que estava estacionado na esquina da Paulista com a Alameda Campinas, e em frente ao Masp, onde estava instalado o carro de som do Movimento Brasil Livre (MBL). Nos demais trechos, era possível circular tranquilamente pela avenida.
Alguns manifestantes arriscavam explicações para a queda de público. Entre os motivos apontados estavam a “acomodação” do povo brasileiro, a baixa divulgação na mídia e o pouco tempo para preparação – menos de um mês desde o último ato. A médica Maria Aparecida Giomanetti, associou a queda de público à falta de ações dos políticos em Brasília. “O que aconteceu no Congresso desde o dia 15? Nada, absolutamente nada”, disse ela.
Embora a maioria dos manifestantes mais uma vez fosse de famílias, muitos palavrões e ofensas faziam parte dos gritos de guerra. O Datafolha, que na manifestação de março afirmou ter 210 mil pessoas ante estimativa de 1 milhão da Polícia Militar, foi um dos alvos.
A participação de políticos nas ruas foi discreta. Foram vistos circulando pela Paulista tucanos como o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, o suplente de senador e ex-deputado José Aníbal e o secretário estadual de Planejamento, Júlio Semeghini, além de Milton Flávio, presidente do diretório municipal do PSDB
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), próximo ao carro de som do Revoltados On Line, foi o único a ser tratado como celebridade e chamado até de “presidente” por manifestantes. Ao discursar, criticou o PT e defendeu o porte de armas. Empolgado com a receptividade do público, Bolsonaro insinuou que poderá se candidatar à presidência. “Quero participar da política nacional em 2018. Não estou dizendo que sou candidato, mas quero participar do debate”.
Vestida de vermelho, a artesã Tarcila Soares Lima foi hostilizada na Paulista. Sozinha, ela gritava “Viva Dilma e viva Lula” e foi alvo da hostilidade de manifestantes, que passaram a vaiá-la e a gritar que “seu lugar não é aqui”.
“Não recebo nenhum benefício do governo. Vim aqui defender o que é legítimo”, disse Tarcila. Ela disse ter sido xingada, mas não agredida fisicamente. “Também tenho direito de me manifestar.”
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