sábado, 18 de dezembro de 2021

Do virado ao pastel: somos aquilo que comemos

CARLOS ALBERTO RODRIGUES JÚNIOR

13/10/2014

REPRODUÇÃO. TODOS OS CRÉDITOS AOS AUTORES.



Muito se pode dizer de um povo através de seus pequenos hábitos. É possível escrever uma enciclopédia em vários fascículos sobre as tradições de qualquer nação. Mas são realmente os pequenos hábitos que definem aquilo que qualquer povo realmente é.

E de todos estes pequenos hábitos capazes de definir uma nação inteira, nada simboliza tão bem sua identidade quanto suas comidas populares. Qualquer povo do planeta pode montar um amplo cardápio contendo suas mais variadas iguarias, mas destas, poucas terão a honra de simbolizar sua cultura e sua identidade. E geralmente são os pratos mais simples que carregam esta imensa honra.

Alguém por acaso conseguiria imaginar o americano sem o hot dog ou o hambúrguer, o italiano sem a pizza, ou até mesmo o baiano sem o acarajé?

No final do século XIX, milhões de imigrantes deixaram suas terras em busca de uma nova vida na América. Em Nova Iorque, a maioria destes imigrantes era muito pobre, e a salsicha trazida pelos alemães, feita com sobras de carne, era uma das únicas fontes de proteínas acessíveis aos mais humildes.

A ideia de colocar a salsicha no pão veio de um comerciante destas salsichas que queria encontrar um modo de seus clientes não queimarem suas mãos, já que a carne era consumida logo após ser cozida em água fervente. Até a mostarda, tradicional condimento do autêntico hot dog, possuía uma função muito clara de disfarçar a má qualidade das carnes utilizadas para fazer as salsichas na época.

Em São Paulo, a relação entre nossa cultura e nossa comida não é diferente. A culinária paulista é riquíssima e farta, e possuímos uma infinidade de pratos típicos que podem ser classificados de acordo com os ingredientes encontrados em cada região as origens de seus habitantes.

Talvez nosso prato típico primordial seja o virado. A origem deste prato remonta aos bandeirantes. Basicamente, o virado é feito a partir de ingredientes que se podia carregar facilmente sem se deteriorarem durante as expedições mata adentro.

É um a mistura de vários elementos da culinária européia com a culinária indígena. Realmente, nenhum prato é mais paulista que o virado. É o mais autêntico representante de nossas origens. É tradicionalmente servido na segunda-feira, ou seja, a semana de trabalho começa com um tradicional prato típico paulista.

Já no início do século XX, imigrantes de várias partes do mundo passaram a viver em São Paulo, e isso gerou um forte impacto em nossa cultura. E obviamente, essa mistura étnica acabou refletindo no prato do paulista. Podemos encontrar em nossa alimentação elementos das mais variadas origens.

Trazida por imigrantes italianos, a pizza tornou-se quase uma religião para o paulista. Em qualquer parte do mundo a pizza pode ser encontrada, mas em São Paulo acabou adquirindo características singulares. A pizza paulista é, reconhecidamente, uma das melhores do mundo.

No entanto, a iguaria que talvez hoje melhor simboliza a identidade paulista é o singelo e delicioso pastel. Sua verdadeira origem é desconhecida. A teoria mais aceita é que tenha sido criado por imigrantes orientais, adaptando sua culinária tradicional a ingredientes locais. Independentemente de sua origem, o pastel, feito da maneira como o conhecemos hoje, surgiu de fato em São Paulo.

Podemos encontrar pastel em todo o Brasil, mas em nenhum outro lugar possui o mesmo sabor e o mesmo contexto cultural e social que o tradicional pastel de São Paulo. É um alimento democrático, pois é acessível e aceito em todas as classes sociais. É possível encontrar na beira de uma feira um executivo trajando um caríssimo terno comendo um pastel bem ao lado do mais humilde dos seres.

Ao parar em uma feira qualquer e pedir um pastel recheado com seu sabor predileto, muito mais que alimentando seu corpo físico, está também enaltecendo sua cultura. Pode ser um ato corriqueiro, mas há muito mais valores culturais e regionais neste simples petisco do que se pode imaginar.

Aos interessados, recomendo pesquisar com carinho sobre os hábitos alimentares de nosso povo e, principalmente, experimentar nossos pratos típicos. Será uma experiência enriquecedora e, acima de tudo, deliciosa.

Liberdade para São Paulo!

*O autor é membro do MSPI

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