segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Quadro histórico de São Paulo colonial.

Verbete "São Paulo" do livro Informações Históricas sobre São Paulo no século de sua fundação, de Edith Porchat.

SÃO PAULO: (fundação e primeiros tempos coloniais) - Em 1549, enviado por Dom João III, chegou à Bahia o padre Manuel da Nóbrega, chefiando um grupo de jesuítas a fim de auxiliar os portugueses na obra de catequese dos índios brasileiros. Imediatamente, mandou o padre Leonardo Nunes fundar um colégio em São Vicente e, em 1553, nomeado provincial da Companhia de Jesus no Brasil, dirigiu-se também a São Vicente, onde, em dezembro do mesmo ano, chegavam José de Anchieta e outros jesuítas. Encontrando o litoral já quase todo habitado por portugueses inescrupulosos e índios escravizados , e verificando que os pais dos discípulos do Colégio de São Vicente moravam quase todos no interior, tomou por guia André, filho de João Ramalho, e rumou para o sertão à procura de lugar mais adequada para o ensino. Descobriu no planalto de Piratininga a aldeia fundada por João Ramalho: Santo André reunindo às vezes vinte pessoas, entre missionários e curumins, que lá se iam educar. À entrada da choupana, uma esteira servia de porta. Dormiam em redes. O fogo, aceso para aquecer, fazia as vezes tanta fumaça no interior que, apesar do frio, os jesuítas preferiam estudar com os alunos ao ar livre. Comiam sobre folhas de bananeira, constando a refeição de farinha de mandioca e, raramente, de algum peixe ou caça. Os caciques Tibiriçá e de Caiubi mudaram-se com seus índios para as redondezas do Colégio, estabelecendo-se o primeiro lugar onde surgiu depois a rua Martin Afonso, hoje São Bento, e o segundo, para os lados da Tabataguera, hoje Tabatinguera. O arraial foi logo cercado por muros de taipa de pilão e estacada, construídos pelos principais moradores e pelos índios guaritas de atalaia e, de quando em quando, uma porta na direção de alguns caminhos principais. Mais tarde, com o desenvolvimento do povoado, os muros foram alargados. Os fundadores de São Paulo foram doze ou treze jesuítas, que até hoje não ficaram bem identificados, por falta de documentos. Seriam eles, provavelmente, entre padres e irmãos da Companhia: Anchieta, Manuel de Paiva, Afonso Brás, Vicente Jácome, Francisco Pires, Mateus Nogueira, Antônio Rodrigues, João de Sousa e Fabiano de Lucena. Em 1560, Mem de Sá, terceiro governador-geral do Brasil, ao transferir os moradores de Santo André para a vila de São Paulo, aconselhado por Nóbrega, tinha em vista medidas econômicas, melhor abrigo contra os índios e posição mais adequada ao trabalho dos missionários. Além disso, considerava o local ponto de partida estratégico para as excursões ao Paraguai e ao interior do Brasil, como de São Paulo. Para defender os viajantes contra os contínuos assaltos dos tamoios, entre São Paulo e Santos, Mem de Sá determinou que se usasse o "Caminho do Padre José", assim chamado em homenagem a Anchieta, a quem se atribui erradamente a construção dessa estrada. Com o abandono da Vila de João Ramalho e o afluxo de portugueses do litoral o ambiente de São Paulo tornou-se desfavorável à catequese. Em 1561, Nóbrega e Luís da Grã, seu "colateral" na Companhia de Jesus, resolveram transferir o Colégio para São Vicente. Em 1562, índios guaianás, carijós e tamoios do vale do Paraíba, chefiados por Jagoanharo, sobrinho de Tibiriçá, pintados e emplumados, armados de arcos e flechas, assaltam a vila de São Paulo, com grande alarido, bater de pés, gritos e assobios. Foram repelidos pelos heroísmo de Tibiriçá. Em maio de 1563, Nóbrega, para negociar a paz com os tamoios, toma Anchieta entretanto conseguiu acalmar. Chamado a São Vicente, Nóbrega viu-se obrigado a deixar Anchieta como refém. Durante a permanência no aldeiamento inimigo, Anchieta compôs e docorou o famoso poema escrito na areia, dedicado à Virgem. Só voltou para São Vicente depois do armistício de Iperoig, realizado a 14 de setembro de '563. Por essa época, uma epidemia de varíola assolou Piratininga, fazendo numerosas vítimas e expondo a população à fome a miséria. Entre 1567 e 1570 Anchieta proporciona a São Paulo a representação do Auto da Pregação Universal, peça de sua autoria, escrita em parte em tupo e parte em português. Representada ao ar livre epidemia disentérica. Tamoios e franceses ainda tentam assaltar São Vicente, mas são repelidos. Repelidos são também os ataques de Edward Fenton e Tomas Cavendish à vila de Santos. Em meio a todo esse tumulto, São Paulo consegue desenvolver pequenas indústrias, como a de tecidos de algodão, chapéus de feltro e a da marmelada, que, em fins do século XVII, se tornaria uma das principais fontes de renda de Piratininga, chegando uma caixeta a ser vendida, mas minas, por preço equivalente a mais de uma grama de ouro. São Paulo cultiva trigo, cevada, uva, roseiras para a indústria de água de rosas e alguma cana de açúcar para o próprio consumo. A criação de gado toma certo incremento. Até o fim do século XVI, o paulista era pobre. A vila teria mil e quinhentos habitantes, com cento e cinquenta "fogos". O mobiliário das casas e tudo o que o cercava era primitivo e sem conforto. Panos de algodão, carnes, galinhas e mantimentos em geral eram a moeda corrente da época. Cada missa custava sete frangos. A vida era cara e difícil. O "edifício" do Senado da Câmara, pertencente a particulares, construído no lugar depois chamado de pátio de São Francisco, era uma casa coberta de palha que já desabara uma vez e fora reconstruída por alguns homens abnegados. O paulista vivia isolado, por não ter produção que interessasse ao estrangeiro. Ignorava o que ia ser pelo mundo. Evoluíra de maneira diferente e talvez por esse motivo se tivesse tornado altivo e independente, demonstrando personalidade e insubmissão. Os índios continuavam a perturbar a vida da capitania. Em 1590, inesperadamente irrompem em São Paulo os tupiniquins, devastando aldeias e queimando igrejas. Durante seias anos, Jerônimo Leitão, capitão-mor, lutou contra essas invasões. Os rios eram as melhores vias de transporte no planalto, por exigirem menos esforço e oferecerem mais garantia contra os ataques. Para chegar ao porto do rio Tietê, onde em 1700 foi construída a Ponte Grande (com 4 palmos de largura e orçada em 200$000), tomava-se uma canoa no Tamanduateí, no lugar chamado "porto geral" para povoação, "para o qual se descia por uma viela empinada" que ainda hoje conserva o mesmo nome e inclinação (ladeira Porto Geral). A língua falada entre os paulistas era mais comumente a "língua geral", que era o tupi adaptado pelos jesuítas. Só na primeira metade do século XVIII é que foi substituída pela língua portuguesa, apesar daquela ser preferida pelos velhos até fins do mesmo século. Explica-se esse fato pela convivência dos colonos com os índios, em geral empregados domésticos, ou, em grande parte, utilizados na lavoura. Havia grande diferença na educação dos dois sexos. Os homens aprendiam a ler, escrever e contar. As mulheres só sabiam cozinhar, lavrar a terra e fazer renda. Não era admissível a uma dona-de-casa ilustrar o espírito. Em 1597, os paulistas, com os Afonso Sardinha à frente, extraíram algum ouro de lavagem nas menias de Jaragua, Vuturana, Jaguaminguba, Ribeira de Iguape, Cananeia. Em 1599, com a chegada de dom Francisco de Sousa, governador-geral do Brasil, começam a interessar-se pelo luxo. As famílias mais abastadas tinham até criados de libré. A situação econômica tende a melhorar a partir de 1601, tornando-se a cultura de açúcar a maior riqueza do paulista, a até à primeira metade do século XVII. Nessa época, o traçado de São Paulo, embora rústico, era em linhas gerais o mesmo que o atual. O centro da cidade já formava um triângulo com as igrejas de São Francisco, São Bento e Carmo. A rua Direita chamava-se de Santo Antônio e, mais tarde, da Misericórdia. A de São Bento era chamada Martin Afonso, nome cristão do cacique Tibiriçá. Em 1628, os paulistas, com Raposo Tavares à frente. entregam-se à famosa caça ao índio. Cometem atrocidades, como aliás, em todo o mundo, o faziam os desbravadores do sertão. Era tão grande a sua fama de tirania que o vice-rei do Perú, propôs que, para tranquilidade da América do Sul se destruísse "a povoação de São Paulo", pelo número de crimes ali cometidos. A 13 de julho de 1640, os paulistas invadem o Colégio de São Paulo e expulsam os jesuítas de toda a capitania, considerando-os empecilho ao progresso da colônia, pois defendiam os índios e, assim, as fazendas não poderiam manter-se. Com a libertação de Portugal do domínio espanhol (1640), foram influenciados pelos castelhanos aqui radicados e aclamaram rei a Amador Bueno de Ribeira, que recusou o título e conjurou o povo a reconhecer dom João IV como verdadeiro soberano dos brasileiros. Algum tempo depois, a vida de Piratininga é perturbada pelas lutas políticas entre as famílias Pires e Camargo, verdadeiras guerras civis que só terminaram com a intervenção de Portugal. O paulista possuía terras, mas não tinha gente para cultivá-las. Era classificado pela quantidade de chão que possuía. Quem não tivesse uma sesmaria ficaria deslocado na sociedade,sem direito a cargo algum. Tudo girava em torno da propriedade rural, onde dominava o senhor de engenho. Traço característico do paulista era o respeito à palavra empenhadada. Os maiores negócios se resolviam apenas com uma promessa verbal que era religiosamente cumprida. Com a notícia do ouro fora do território, os bandeirantes atiraram-se pelos sertões, alargando as fronteiras do Brasil. Em1633, segundo as atas da Câmara, fazia-se dinheiro de ouro e prata em São Paulo. Em 1645, Salvador Correia de Sá e Benevides fundava em São Paulo a primeira Casa da Moeda instalada no Brasil, o que se devia talvez à importância das minas do Jaraguá. Por essa época, foi cunhado o "São Vicente", moeda de ouro paulista, cujo valor inicial era de um mil réis. Na segunda metade do século XVII, melhora o padrão de vida. Avultam os objetos de prata. Chegam as colchas da Índia; aparecem catres com cabeceiras torneadas, móveis de jacarandá, redes trabalhadas. O espelho já se tornara conhecido desde 1619. Os paulistas, porém, fascinados pelo ouro, ausentam-se por tempo indeterminado, abandonando a vila, que ficou habitada em grande maioria por mulheres, crianças e velhos. A falta de braços começa a fazer-se sentir na lavoura e na criação de gado. Ao lado de uma prosperidade fictícia, São Paulo entra em decadência, permanecendo nesse estado durante cem anos. Em 22 de março de 1681, por determinação do marquês de Cascais, a sede do governo da capitania passaria a ser na vila de São Paulo. Instalou-se porém somente a 27 de abril de 1683. Por essa época, começou a generalizar-se a palavra "paulista" para designar os filhos de Piratininga. Por carta régia de 22 de janeiro de 1698, a capitania de São Vicente foi separada do governo-geral do Estado do Brasil, sujeitando-se ao governo do Rio de Janeiro, devido à grande distância que ficava da Bahia, sede dos governadores-gerais. Em 1710, abrangendo os atuais Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e parte do Rio Grande do Sul, até a colônia do Sacramento, foi, por ordem de dom João V, chamada de "Capitania de São Paulo", em substituição ao nome de "capitania de São Vicente". Em 1711,a vila de São Paulo foi elevada à categoria de cidade. Em 1720, para a maior facilidade de administração, Minas foi desmembrada de São Paulo, que veio a perder também outras partes de seu território, com exceção do Paraná. Em 1748 a capitania de São Paulo foi anexada à do Rio de Janeiro, até 1765, quando voltou a ser independente, sob o governo do Morgado de Mateus. Em 1758, o rei Dom José proibia, definitivamente, o cativeiro dos índios. Era um novo golpe contra a vida econômica de São Paulo, que desse modo, não poderia continuar a exploração das minas com tanta intensidade. Com o declínio da mineração em fins do século XVIII, foi iniciada a lavoura do café, formando-se em Campinas o primeiro cafezal (1809). O Paulista entrega-se então à agricultura. Cria gado. A vida de fazendeiro pacato e desconfiado do século XIX. Seus descendentes procuram estar em contacto com os europeus e adaptam-se à vida civilizada. Essa nova mentalidade fez do paulista primitivo o homem culto e evoluído dos nossos tempos. Em fins do século XVI, a vila de São Paulo, dentro da capitania de São Vicente, teria mil e quinhentos habitantes. Atualmente, a população da capital é de 11.128.848 habitantes, e, todo o Estado, cuja superfície é de 248.256 km², tem 33.069.900 habitantes. Nos últimos cinquenta anos, a população do Estado quadruplicou, fenômeno só comparável ao que se verificou nos Estados Unidos. O Estado de São Paulo é atualmente o maior parque industrial do Brasil e da América Latina. Cortado na capital pelo trópico de Capricórnio, limita-se ao norte com o Estado de Minas Gerais; a leste, com os Estados de Minas, Rio de Janeiro e o Oceano Atlântico; a oeste com os Estados do Paraná e Mato Grosso do Sul.

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