sábado, 2 de outubro de 2021

O autoritarismo é inimigo de São Paulo

IMAGEM REPRODUÇÃO - CRÉDITOS AO AUTOR.

JÚLIO BUENO

Inserido no panteão dos povos que carregam inevitavelmente dentro de suas almas o real espírito de liberdade, os Paulistas vem demonstrando, durante toda sua trajetória homérica de mais de quatrocentos anos, que não aceitam sobre si as patas do cavalo da tirania.

Não é a primeira vez que cito esse fato histórico, todavia é sempre bom trazer a tona esse dado curiosamente esquecido dos anais historiográficos das universidades brasileiras, que no longínquo ano de 1641 pela primeira vez na história do continente americano, ouviu-se o toque da liberdade ecoar desde o Planalto Paulistano, falando em independência pela aclamação de Amador Bueno, rei dos Paulistas, o que representava justamente a luta de um povo livre contra a tirania da Coroa Portuguesa recém restaurada.

No período colonial o autoritarismo era a Coroa Lusitana, suas restrições à vocação espiritual do povo Paulista de demonstrar sua liberdade e construir na América uma raça de gigantes. Veio 1822 e mudou-se a Coroa.

São Paulo foi força decisiva de primeira hora em defender o rompimento do Brasil com Portugal. Não fossem os Paulistas apoiadores de Dom Pedro I, a Independência em sete de setembro não seria relembrada. Apoiar a secessão do Brasil nada mais significava do que uma luta legítima contra a opressão portuguesa, agora nas mãos das Cortes de Lisboa, que desejavam voltar ao velho sistema colonial, já transformado pela ação coerente de Dom João VI, a mudança da Família Real ao Rio de Janeiro, e elevação do Brasil ao patamar de Reino Unido. São Paulo defendia a mais plena realização de liberdade possível.

Enganaram-se os Paulistas pensando que com a separação da América portuguesa com relação à Lisboa transformaria o quadro de opressão e autoritarismo com nosso povo. São Paulo permaneceu sem ser autônomo em suas decisões, tendo que negociar sempre com o Rio de Janeiro, sede do poder imperial, quem ficaria como o presidente da província. E o que é pior, o fator econômico, pois já no século XIX em São Paulo o ciclo do café estava a despontar, e os bônus dessa atividade econômica não foram usadas para o bem de nosso povo. Foram gastos com uma guerra (contra o Paraguai) que não nos dizia respeito, contra um povo que fez tremer o imperialismo brasileiro.

O Paulista segue sua marcha histórica de imperativo espírito livre. Percebe-se pouco a pouco que a monarquia não serve ao Povo Paulista. Percebe-se que a monarquia é sua inimiga. Eis então que no seio da população bandeirante os princípios republicanos começam a tomar vulto. De Itu partem as ideias que farão no fim do século XIX emergir a república. Discordo da tese daqueles que afirmam com espírito revolucionário quase anárquico, que 1889 foi "a república que não foi".

Com a república parecia que a luta de São Paulo por autonomia havia se encerrado. Em 1891 a primeira Constituição Republicana consagrou o federalismo, e uma autonomia aos estados como nunca estas terras viram. Lamentavelmente a inveja daqueles que pensam somente em si veio a destruir tão belo e útil documento em 1930. Episódio já bem esmiuçado em diversas publicações, a chamada Revolução de 1930 ou Golpe de 1930 como bem melhor deveria ser alcunhada, pois termo ao período de maior liberdade que São Paulo desfrutou. Em 1930 confirma-se a tese de que o Brasil é um grande abutre que só se satisfaz quando vê sua fonte de sobrevivência (São Paulo) reduzida a mero monturo de carne podre e sem espírito.

Dizer que São Paulo levantou-se como Fênix em 1932 é um chavão, mas que sem sombra de dúvida cabe plenamente. O povo de São Paulo levantou-se irmanado com a plenitude das forças de seu espírito, evocando a tradição independente de seus antepassados Bandeirantes, para reconquistar desse modo sua autonomia, e vencer a serpente invejosa que foi o caudilho Getúlio Vargas. Perdemos a batalha física, mas restauramos a vivência do espírito Paulista. Vargas infelizmente continuou com sua ditadura, o período mais danoso a história de São Paulo.

Temos com Getúlio, e seu ódio pessoal a São Paulo, o pior período que passamos. Teve o fim que merecia. Todavia, lamentavelmente, o danoso espírito que esteve encarnado na sua pessoa sobreviveu a sua morte. Esse espírito ainda vive e nada mais é do que a vilania brasileira. Inveja pura e simples do Brasil.

Esse espírito consubstanciou-se na inveja, no ataque, no boicote, na conspiração e em outras práticas aplicações. Vive até hoje na mente dos brasileiros, transmitido pela mídia, lavando a alma dos paulistas e dos demais habitantes da América portuguesa. Não nos renderemos. Seremos o último reduto, a permanecer de pé entre as ruínas, até nossa independência.

*O autor é Professor de História e ex-presidente do MSPI.
Publicado originalmente em 11/10/2013

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