25/04/2018
Após estes primeiros meses em que estou vivendo na Itália, tive a oportunidade de tirar algumas conclusões sobre vários assuntos que são recorrentes entre nós, mas que de fato não temos a real dimensão das coisas. Um destes assuntos aborda o separatismo em diversos países europeus. Conheci um simpatizante da causa aqui na Itália (ele apenas apoia, mas não participa ativamente de nenhum movimento), e ele me explicou como as coisas funcionam por aqui.
Primeiro, de acordo com ele, o separatismo só se torna viável quando através da união das forças populares e das forças políticas. Ele citou como exemplo a Catalunha e a Escócia, onde há realmente uma movimentação de fato nos bastidores políticos, e estes cada vez mais amparados popularmente.
A Bélgica será o próximo país onde a coisa ficará séria nos próximos anos. De fato, o país sempre foi unido artificialmente pela monarquia local, e esta união tem se mostrado cada vez mais instável. Um dos grandes problemas, caso haja uma separação entre flamengos (de língua holandesa) e Valões (de língua francesa), é a capital Bruxelas. É a maior e mais rica cidade belga. Geograficamente está na região flamenga, mas a maior parte da população é francófona. Por razões óbvias, a região é oficialmente bilíngue, mas na prática não é bem isso que ocorre. Este é um dos maiores problemas com o separatismo belga. Com quem ficará a maior e mais rica cidade?
Outra região que vem ganhando cada vez mais apoio político e popular é a Baviera. A região é a mais rica da Alemanha, e possui traços culturais distintos. A maior diferença cultural entre os bávaros e os demais alemães é a questão religiosa. A Alemanha é predominantemente protestante, enquanto a Baviera é até hoje um estado católico. O separatismo começou a ganhar força após a reunificação alemã. São eles quem de fato estão pagando a conta até hoje.
Um movimento que não é muito comentado, mas possui apoio popular e, depois de anos, está começando a obter algum apoio político é o da Transilvânia. A população de origem húngara nunca aceitou fazer parte da Romênia, e na época em que o país esteve sobe o comando do Ceausescu, os traços culturais húngaros passaram a ser combatidos pelo governo, bem como a ocupação do território por romenos étnicos.
E na Itália? Na escola aprendemos que há "duas Itálias", a do norte, mais rica, e a do sul, mais pobre, e que isso tem feito com que a população do norte queira a independência. Isso não é bem assim. Apesar de existir sim um movimento que propõe dividir a Itália entre norte e sul, as questões étnicas e regionais costumam se sobressair nesta questão. A Itália, culturalmente falando, é uma colcha de retalhos, com regiões extremamente distintas umas das outras. Antigamente cada uma destas regiões tinham suas próprias línguas, que foram forçadas pelo governo a serem substituídas pelo italiano (que na verdade é a língua toscana, que por razões simbólicas foi adotada como língua oficial).
De acordo com este simpatizante da causa, estas questões étnicas e culturais dificultam uma união em torno da causa pelo norte. É mais ou menos aquilo que costumamos citar quando se fala em união entre São Paulo e o sul. As diferenças culturais e regionais inviabilizam esta união (entre os próprios sulistas isso já vem se tornando um problema).
A outra questão é o grande número de migrantes do sul da Itália para o norte. Uma parcela muito grande da população destas regiões mais desenvolvidas é composta por migrantes das regiões mais pobres. De fato isso é uma realidade. Eu moro no Piemonte, mas uma parte considerável dos meus colegas de trabalho são de outras regiões da Itália. E olha que eu trabalho em uma área mais "elitizada". Se verificarmos os profissionais de profissões que exigem menos escolaridade, vamos notar que a maioria destes profissionais são originários de regiões como Sicília e Calábria.
Concluindo, assim como nós, paulistas, os separatistas europeus enfrentam problemas de diversas ordens. Mas podemos concluir que ocupação de territórios por povos de etnias diferentes e padronização cultural são obviamente políticas implementadas pelo estado central, com a clara finalidade de dificultar a disseminação de ideais nacionalistas e independentistas.
*O autor é colaborador do MSPI.
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