sábado, 25 de setembro de 2021

A fraternidade social entre os primeiros paulistas

Júlio Bueno




A cidade de São Paulo, embora não seja o núcleo inicial e primevo da Civilização Paulista, glória que cabe a São Vicente, logo, poucos anos após sua fundação em 1554, começou a construir uma organização social permeada de um espírito fraterno e, correndo o risco de poder parecer anacrônico e usar uma palavra muito corrente hoje, o espírito dos paulistanos dos primeiros anos era de um irmanamento democrático.

Afonso Escragnole de Taunnay em sua obra "São Paulo nos primeiros anos", da década de 1920, registra muito bem, amparado em amplos e bem completos documentos de época, as Atas da Câmara Municipal de São Paulo, aquelas, entre todas as da América portuguesa que melhor ficaram preservadas para a posteridade.

A organização social da São Paulo de Piratininga em seu primeiro meio século foi baseada legalmente naquilo que as Ordenações do Reino ditavam, e logo em São Paulo uma Câmara municipal foi colocada pelos paulistanos para deles se servirem e utilizarem, como meio de parlatório e espaço de síntese das questões quotidianas do paulista de então.

No início a Câmara era o princípio, a instituição, e não o prédio, que veio depois. Os paulistanos tratavam-se de acomodar-se toscamente em qualquer habitação de um de seus homens bons, e lá resenhavam sobre seus temas: ora a necessidade de se reforçar parte do muro da Vila, que se encontrava com buracos, a maneira de se repartir e distribuir as terras, os tributos e sua arrecadação, enfim, toda a sorte de situações e circunstâncias.

Uma questão pode ser levantada: esses paulistanos que deliberavam na Câmara deveriam ser pessoas de grandes posses, cheios de tropas, comerciantes, latifundiários.

Hipótese mais equívoca não poderia ser levantada! Os homens bons em São Paulo eram aqueles que haviam, e só. Estes eram agricultores ou mestres de obras e outros afazeres. Uma elitização só veio propriamente se dar mais de um século depois, quando São Paulo voltou-se para si, após a Guerra dos Emboabas, após São Paulo ter recuado o meridiano, ter construído a mais significativa área, em extensão do Império português no mundo e após ter a graça de descobrir a Manoa do Dorado, que sequer para Portugal ficou, mas foi para a Inglaterra, ajudar a financiar a Revolução Industrial.

Até índios livres, em expressivo número foram membros da Câmara paulistana!

São Paulo construiu dessa maneira para si, desde o início de sua existência uma experimentada elite política, no início fraterna e muito mais democrática do que poderíamos imaginar. Esses primeiros paulistas ainda deixaram-nos os ricos troncos de famílias, cheias do espírito paulista, de conquista, de ordem, hierarquia, de empreendedorismo real e respeito a tradição com democracia.

TAUNAY, Afonso d'Escragnolle. São Paulo nos primeiros anos (1554-1601). São Paulo: Editora Paz e Terra, 2003.

Publicado originalmente em 08/08/2013

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