sábado, 25 de dezembro de 2021

Separatismo no Brasil: conheça a República dos Pastos Bons

29/07/2017

JÚLIO BUENO


Hoje passei bem umas duas horas lendo sobre um tema, que desconhecia por completo. Sabia você que no século XIX existiu o projeto da criação de um país no interior do Brasil, abrangendo áreas do Maranhão, de Tocantins (a época parte da província de Goyaz), Pará e Piauí? Pois é, eu também desconhecia. É a chamada REPÚBLICA DOS PASTOS BONS.

Vamos entender o que estava por trás de mais essa parte do território brasileiro que poderia ter se tornado um país independente, mas acabou não se tornando.

O movimento se dá nos primeiros anos do Império, com as agitações em torno da ideia tendo surgido após a Confederação do Equador (1824) e teve o seu momento máximo em 1835, com a Declaração de Grajaú, onde sob os valores iluministas de igualdade, democracia e republicanismo, uma pátria foi fundada.

Uma parcela significativa das elites políticas e econômicas daquelas regiões apoiavam a ideia. Pastos Bons era um importante centro irradiador do sul do Maranhão (a tradição aponta que essa cidade foi fundada pelo Paulista Domingos Jorge Velho) e estava muito distante de São Luís. Suas comunicações estavam mais estabelecidas com Oeiras, então capital do Piauí, do que com a capital de sua própria província.

Contudo, a adesão à ideia não foi forte o suficiente para atrair a atenção de nenhuma nação (pelo que sabemos não houve comunicação vinda da parte de qualquer outro país existente na época, no sentido de se reconhecer a independência de Pastos Bons) e de nenhum grupo politico do império no Rio de Janeiro. Foi uma questão de abrangência essencialmente regional, mas muito demonstrativa de como o governo brasileiro (e antes dele o governo português) já há muito tempo tem dificuldades em lidar com regiões que não são privilegiadas pelos grandes centros de poder político (a maneira mais simples de se obter reconhecimento político é, justamente, por meio da emancipação de um território, seja transformando-o em distrito, município, estado ou país).

Passados cinco anos, em 1840, dentro do contexto da Balaida (outra revolta separatista), Grajaú voltou a ser um foco secessionista, desta vez provocando mais ira do governo imperial brasileiro. A Guarda Nacional foi acionada para sufocar o levante rebelde. Foi um verdadeiro massacre, comandado por Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, que mandou incendiar prisioneiros, dada a falta de celas para abrigar aqueles que haviam sido capturados.

Após este último episódio, as conversas para uma república dos Pastos Bons foi sendo colocada de lado. É normal, após uma ação tão cruel da parte da tirania dos Bragança, que a população passasse a temer mais o inimigo e se retraísse. Durante todo o império, projetos foram apresentados (dois, pelo Visconde de Taunay, a época senador) não mais para separar a região do território do Império, mas para convertê-la em província.

Conforme as elites das regiões envolvidas foram se acomodando às novas circunstâncias do quadro político o tema foi perdendo força, sem, contudo, deixar de ter os seus desdobramentos até os nossos dias. Em 2011, no Pará foi realizado um plebiscito oficial pelo TSE e TRE com o objetivo de se dividir aquele estado em três: Pará, Tapajós e Carajás. Outros plebiscitos sobre a divisão do Piauí e do Maranhão também já foram aventados. Porém, dentre as áreas pertencentes àquela que seria a República dos Pastos Bons, a que mais obteve sucesso e progresso administrativo foi justamente o Tocantins (que já havia tido um movimento emancipacionista, em 1821, bem no fim do Reino Unido) mas que só virou estado, finalmente, em 1989.
Toda essa história contada é praticamente desconhecida. Eu mesmo não conhecia ela. Não interessa às elites políticas do Brasil deixar que os exemplos históricos de busca por liberdade e soberania sejam conhecidos. Eles temem perder, conforme um novo pensamento venha a ganhar força, os seus privilégios e suas mamatas. Temem perder o poder. Se a República dos Pastos Bons não teve sucesso político, hoje, em partes daquelas mesmas regiões nós temos notícias de pessoas que defendem a secessão em todos os estados. A causa secessionista permanece viva. Talvez mais do que na época em que o governo brasileiro colocou fogo nos cabanos de Grajaú.

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